Proibição de Celulares nas Escolas do Rio Impulsiona Aprendizagem e Comportamento dos Alunos
Em um cenário nacional onde o uso excessivo de telas se tornou uma das maiores preocupações de pais, educadores e autoridades de saúde, a Prefeitura do Rio de Janeiro deu um passo à frente com uma medida ousada. Antes que a lei federal [Lei nº 15.100/2025] se tornasse obrigatória, a capital fluminense decidiu banir o uso de celulares em suas escolas no início do ano letivo de 2024. O que parecia uma decisão impopular, inicialmente recebida com resistência, revela agora resultados surpreendentes. De acordo com reportagem da [Tâmara Freire – Repórter da Agência Brasil], a medida gerou melhorias significativas no desempenho acadêmico, na socialização e no comportamento dos estudantes.
Para o estudante Enzo Sabino Silva Cascardo, de 15 anos, a proibição representou uma mudança radical. “Ninguém prestava atenção”, ele relembra, descrevendo o cenário anterior em que jogos e redes sociais roubavam a atenção nas salas de aula. O comportamento se repetia até mesmo fora da classe, em momentos de lazer. “No recreio, era igual aqueles desenhos: todo mundo com a cabeça abaixada olhando no celular, ninguém brincava, ninguém conversava”, conta.
A ‘Desintoxicação’ e os Ganhos Acadêmicos
Apesar da insatisfação inicial dos alunos, que, segundo Enzo, “ficaram chateados, para não usar outra palavra”, a vida nas escolas se transformou rapidamente. Os professores puderam voltar a conduzir as aulas com menos interrupções, e o recreio, antes dominado pelas telas, foi devolvido às brincadeiras e conversas. A estudante Priscila Henriques Lopes da Silva, de 14 anos, que antes considerava o celular “um vício”, hoje reconhece que “não precisa ficar mexendo no celular para poder se divertir”.
Essas transformações subjetivas são corroboradas por dados objetivos. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, o desempenho dos alunos do ensino fundamental teve um avanço considerável em 2024. Um pesquisador da Universidade de Stanford analisou os resultados e isolou o impacto da proibição, identificando um aumento de 25,7% em matemática e 13,5% em português. O secretário de Educação, Renan Ferreirinha, destaca a magnitude do ganho: “Em matemática é como se os alunos tivessem aprendido um bimestre a mais dentro do mesmo espaço de tempo”. Ele observa ainda que o impacto foi progressivo, mostrando resultados cada vez melhores ao longo do ano.
A aluna Tauana Vitória Vidal Fonseca, de 15 anos, é um exemplo prático dessa melhora. “Quando a gente podia usar o telefone, eu ficava o dia inteiro no celular, ao invés de prestar atenção nas aulas. Depois que proibiu, minha nota subiu lá em cima! Matemática, principalmente, melhorou muito”, comemora.
O Papel da Comunidade Escolar na Mudança
A diretora Joana Posidônio Rosa, do Ginásio Educacional Olímpico (GEO) Reverendo Martin Luther King, conta que a implementação da medida enfrentou resistência no início. “Tinha aluno que se recusava, tinha aluno que brigava comigo…”, ela recorda. No entanto, o alinhamento com as famílias foi crucial para o sucesso da iniciativa. “A gente teve uma adesão de praticamente 100%. Inclusive recebemos relatos de familiares, contando que em casa a situação também estava muito difícil, porque eles não saíam dos celulares” explica Joana, reforçando que o apoio familiar foi determinante.
O professor de história Aluísio Barreto da Silva presenciou o apego extremo de alguns alunos aos aparelhos, com reações emocionais intensas quando os celulares eram confiscados. Ele associa esse comportamento à herança da pandemia, quando a tela era a principal ferramenta de estudo e socialização. Aluísio aponta que a medida ajudou a recuperar a atenção dos alunos, incluindo aqueles que já tinham um bom desempenho. “Eu tinha que ficar brigando o tempo inteiro, porque como é que o aluno vai prestar atenção, se ele está mexendo no celular?”, questiona. Ele afirma que, mesmo os “bons alunos”, estavam sendo “capturados” pela distração do celular.
Impactos Além dos Números
A “desintoxicação digital” não se refletiu apenas nas notas. A estudante Ana Julia da Silva, de 14 anos, relata uma melhoria que não pode ser medida em gráficos: a mudança de comportamento. Ela conta que, antes, filmava brigas e postava nas redes sociais, sem se importar com as consequências. Após ser confrontada pela escola e pelos pais, ela passou a entender a gravidade de suas ações. “Eu sinto que o que mais melhorou foi o meu comportamento”, confessa.
Essa percepção é compartilhada pelo secretário Renan Ferreirinha, que destaca a importância da escola como um espaço de socialização. A proibição do celular contribuiu para “gerar um ambiente mais acolhedor” e “diminui o bullying e o cyberbullying”, ele aponta. Para o secretário, a medida é um exemplo de como o poder público pode auxiliar as famílias a lidar com os desafios da tecnologia. Ele defende, inclusive, que o debate sobre restrições de redes sociais para jovens de 16 anos seja o “próximo freio de arrumação” a ser encarado pela sociedade.